Neurocientista de Stanford adota oração como terapia
'Nos autodestruiremos se não voltarmos a
acreditar em algo maior do que nós', diz professor
Na
semana passada, o algoritmo do YouTube aparentemente cruzou meus interesses por
religião e ciência e me mostrou uma entrevista recente em que o
neurocientista Andrew Huberman fala sobre uma prática
nova que ele adotou: a oração. Ele é professor da
Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos EUA, e autor de um dos
podcasts mais populares internacionalmente.
Embora
haja cientistas e acadêmicos que frequentam igrejas ou outros templos religiosos,
esse não é o caso de Huberman. "Lembro-me de que, durante toda a minha
vida, eu orava em segredo", ele revelou ao também cientista Lex Fridman,
do MIT. "Quando as coisas não estavam indo bem e eu não conseguia entender
o que estava acontecendo, eu orava em segredo e me sentia envergonhado por
isso."
Huberman não reza de acordo com uma tradição religiosa.
"Eu hesitei em falar sobre isso porque não acredito em impor uma religião
às pessoas", explicou. "Acredito que até mesmo alguém que seja ateu
ou agnóstico também pode orar."
O acadêmico vê a oração como uma espécie de terapia que ele
aplica junto com a meditação. Para aqueles que perguntam sobre a diferença
entre orar e meditar, ele esclarece: "Orar é poderoso de uma forma que
todas as outras ferramentas, como a meditação, não são, porque age em um nível
mais profundo."
Mas como são as orações dele? "Eu oro a Deus pedindo
ajuda para remover meus defeitos de caráter, de modo que eu possa me apresentar
melhor em todos os papéis da minha vida. Mas não estou pedindo por uma mão
mágica que desça e cuide de tudo."
Ele conta que a oração está ganhando mais importância em sua
vida. "Está claro para mim que, se não voltarmos a acreditar em algo maior
do que nós mesmos — o que não precisa acontecer por uma religião tradicional—,
em algum nível nos autodestruiremos."
Huberman adotou essa prática há aproximadamente um ano, mas
resiste à ideia de explica-la como um fenômeno natural ou psicológico. "O
cientista dentro de mim quer entender como isso funciona", ele reconhece.
"Mas a ideia é simplesmente dizer: há um poder maior do que o meu, maior
do que a natureza conforme a entendo, algo que não posso compreender ou
controlar, nem desejo fazê-lo. Estou simplesmente me entregando a isso."
É curioso ver essa busca por vivências religiosas aparecer no
meio científico no mesmo momento em que startups, como as coreanas Meadow
ou Biblely, propõem substituir pastores por serviços de inteligência
artificial. O caso de Huberman ainda levanta uma questão: existe futuro para a
prática religiosa experimentada individualmente e sem uma igreja?
Autor: Juliano Spyer
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