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ARGUMENTO ONTOLÓGICO & LÓGICA MODAL

 


Resolvi traduzir os artigos abaixo, sobre o Argumento Ontológico, por dois motivos:

1) porque um professor de Filosofia afirmou que, depois de Immanuel Kant, o Argumento Ontológico perdeu sua força. Apresentei-lhe alguns autores modernos que lidam com este argumento (Alvin Plantinga, Robert Maydole, Charles Hartshorne, Norman Malcolm, Kurt Gödel etc) e que têm revisado o Argumento original.

Em outro post apresentarei a revisão por parte de Robert Maydole e, em seguida, por Alvin Plantinga. Meu questionamento: é falta de interesse, desconhecimento ou preconceito contra os excelentes argumentos revisados?

Por exemplo, a Stanford Encyclopedia of Philosophy, recomendada por aquele meu professor, traz a seguinte informação sobre o tópico O Argumento Ontológico no Século 21 (Ontological Argument in 21th century):

Muitas recentes discussões do Argumento Ontológico estão em compêndios, manuais, enciclopédias e semelhantes. Assim, por exemplo, existem discussões de revisões do Argumento Ontológico em: Leftow (2005), Matthews (2005), Lowe (2007) e Oppy (2007). Enquanto a ambição destas discussões de revisões varia, muitas delas são destinadas a introduzir os novatos aos argumentos e sua história. Dada a recente explosão de entusiasmo por compêndios, manuais, enciclopédias e semelhantes, na filosofia da religião, é provável que muitos debates como este irá aparecer num futuro próximo.

Algumas discussões recentes dos Argumentos Ontológicos têm sido postos em muitos resumos relativos aos Argumentos acerca da Existência de Deus. Por exemplo, existe uma discussão extensa do Argumento Ontológico em Everitt (2004), Sobel (2004) e Oppy (2006). Em minha opinião, todo estudante sério dos Argumentos Ontológicos deveria fazer um exame cuidadoso do tratamento de Sobel destes argumentos. Sobel fornece um capítulo sobre “Argumentos Ontológicos Clássicos”: Anselmo, Descartes, Spinoza e a crítica de Kant ao Argumento Ontológico; um capítulo sobre os “Argumentos Ontológicos Modais Modernos”: Hartshorne, Malcolm e Plantinga; e um capítulo sobre o Argumento Ontológico de Gödel. A análise de Sobel é muito cuidadosa e faz pesado uso das ferramentas da moderna filosofia da lógica.

Tem havido um livro recente devotado exclusivamente aos Argumentos Ontológicos: Dombrowski (2006). Dombrowski é um admirador de Hartshorne: o objetivo de seu livro é defender a declaração de que o Argumento Ontológico de Hartshorne é um sucesso. Enquanto o livro de Dombrowski é uma contribuição útil à literatura por causa do alcance de suas discussões do Argumento Ontológico – por exemplo, ele contém um capitulo sobre o Argumento Ontológico em Rorty e John Taylor – eu penso que o julgamento que ele faz para o Argumento de Hartshorne seja bastante convincente. Este parecer tem sido compartilhada por muitos revisores do livro,até mesmo aqueles que tenham alguma simpatia pela Teologia do Processo.

Finalmente, alguns trabalhos também têm sido publicados em periódicos. O mais importante desta porção é a Millican (2004), o primeiro artigo sobre o Argumento Ontológico, em recente lembrança, a aparecer na Mind. Millican defende uma nova interpretação do Argumento de Anselmo, e, por uma nova crítica dos Argumentos Ontológicos decorrentes da presente interpretação. Desnecessário dizer que, a interpretação e a crítica são controversas, mas eles também são dignos de atenção. Entre outros artigos de periódicos, talvez o mais interessante seja o de Maydole (2003), que fornece e defende um novo Argumento Ontológico Modal.” (OPPY, Graham. Ontological Arguments. In: STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Disponível em: <http://plato.stanford.edu/entries/ontological-arguments/>)
2) por considerar uma boa aplicação dos princípios da Modalidade, que considera: PossibilidadeNecessidade e Contingência. Trata-se da Lógica Modal, que aplica os princípios da Lógica Formal, a estas modalidades.
O Argumento Ontológico, chamado Argumento A Priori, foi elaborado por Anselmo da Cantuária, aprofundado por Liebniz e, hoje, usado como um exemplo de Lógica Modal que, embora desconhecido por Anselmo nos moldes atuais, já o expunha embrionariamente.

A apresentação de hoje é feita pelo Dr. William Lane Craig. No post a seguir uma apresentação do Argumento Ontológico de Anselmo na linguagem da “Teoria da Quantificação” como demonstrada pelo Dr. Robert Maydole, a fim de demonstrar a validade do argumento de Anselmo. Boa leitura e tire suas conclusões se o “Argumento Ontológico perdeu sua força”

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O Argumento Ontológico a partir da Possibilidade da Existência de Deus para Sua Realidade

William Lane Craig

O ultimo argumento que eu desejo discutir é o famoso argumento ontológico, originalmente descoberto por Santo Anselmo. Este argumento tem sido reformulado e defendido por Alvin Plantinga, Robert Maydole, Brian Leftow e outros[44]. Eu apresentarei uma versão do argumento como apresentado por Plantinga, um dos mais respeitado proponente contemporâneo.

A versão de Plantinga é formulada em termos da semântica de mundos possíveis. Para aqueles que não estão familiarizados com a semântica de mundos possíveis, deixe-me explicar que, por “um mundo possível” não quero dizer de um planeta ou mesmo um universo, mas especialmente uma completa descrição da realidade, ou uma a maneira como uma realidade pode ser. Talvez a melhor maneira de pensar de um mundo possível é como uma gigante conjunção p & q & r & s…., em que conjuntos individuais são as proposições p, q, r, s,…. Um mundo possível é uma conjunção que engloba cada proposição ou sua contraditória, de modo que ela produza uma descrição completa da realidade – nada é deixado de fora desta descrição. Ao negar conjuntos diferentes em uma descrição completa, chegamos a diferentes mundos possíveis:

M1: q & r & s . . .

M2: & não-q & r & não-s . . .

M3: não-& não-q & r & s . . .

M4: q & não-r & s . . .

Apenas uma desta descrição será composta inteiramente de proposições verdadeiras e, por isso, será a realidade como realmente é, isto é, o mundo real.

Desde que nós estamos falando sobre mundos possíveis, as várias conjunções que um mundo possível engloba deve ser capaz de ser verdadeira individualmente ou juntas. Por exemplo, a proposição “o Primeiro Ministro é um número primo” não é mesmo possivelmente verdadeira, pois números são objetos abstratos que não poderiam ser concebidos idênticos com os objetos concretos com o Primeiro Ministro. Então, nenhum mundo possível terá esta proposição como uma de suas conjunções; ao invés disto, sua negação será um conjunto de mundo possível. Tal proposição é necessariamente falsa, isto é, ela é falsa em todo mundo possível. Por outro lado, a proposição “O Técnico Dunga é o Presidente do Brasil” é falsa no mundo real, mas poderia ser verdadeiro, e por isso, é um conjunto de algum mundo possível. Dizer que o Técnico Dunga é o presidente do Brasil em algum mundo possível é dizer que existe a uma completa descrição possível da realidade ter a proposição relevante como um de seus conjuntos. Semelhantemente, dizer que Deus existe em algum mundo possível é dizer que a proposição “Deus existe” é verdadeira em alguma descrição completa da realidade.

Agora na versão completa do argumento, Plantinga expressa uma idéia de Deus como um ser que é “maximamente excelente” em qualquer mundo possível. Plantinga entende excelência máxima a incluir propriedades tais como onisciência, onipotência e perfeição moral. Um ser que tenha excelência máxima em um mundo possível teria aquilo que Plantinga chama de “grandeza máxima”. Então Plantinga argumenta:

  1. É possível que exista um ser maximamente notável
  2. Se for possível que um ser maximamente notável exista, então é possível que um ser maximamente notável exista em algum mundo possível.
  3. Se um ser maximamente notável exista em algum mundo possível, então existe em todo mundo possível.
  4. Se um ser maximamente notável existe em todo mundo possível, então ele existe no mundo real.
  5. Se um ser maximanente notável existe no mundo real, então um ser maximamente notável existe
  6. Então, um ser maximamente notável existe.

Premissa 1

Pode parecer surpresa para você aprender que os passos (1) –(6) deste argumento é relativamente incontroverso. Muitos filósofos concordariam que, se a existência de Deus é mesmo possível, então ele deve existir. A questão principal a ser resolvida no que diz respeito ao Argumento Ontológico de Plantinga é que garante existir para pensar a premissa-chave “é possível que um ser maximamente notável exista” ser verdadeira.

A idéia de um ser maximamente notável é intuitivamente uma idéia coerente e, desta forma, parece plausível que tal ser poderia existir. A fim de o Argumento Ontológico falhar, o conceito de um ser maximamente notável deve ser incoerente, como o conceito de um “casado solteiro”. O conceito de um “casado solteiro” não é um conceito estritamente auto-contraditório (como é o conceito de um homem casado não-casado) e é ainda evidente, uma vez entendido o significado das palavras “casado” e “solteiro”, que nada corresponde que este conceito possa existir. Por outro lado, um conceito de um ser maximamente notável não parece nem mesmo remotamente incoerente. Isto fornece alguma garantia, prima facie, por pensar que é possível que um ser maximamente notável exista.

Resposta de Dawkins

Richard Dawkins dedica seis páginas, cheias de escárnio e injúria, ao Argumento Ontológico, sem levantar qualquer objeção séria ao argumento de Plantinga. Ele observa, de passagem, a objeção de Immanuel Kant que existência não é uma perfeição; mas desde que o argumento de Plantinga não pressupõe que seja, nós podemos deixar esta irrelevância de lado.

Ele repete uma paródia da argumentação destinada a demonstrar que Deus não existe porque um Deus “que criou todas as coisas, enquanto não existir” é maior que um que existe e cria todas as coisas45. Ironicamente, esta paródia, longe de enfraquecer o Argumento Ontológico, na verdade o reforça. Pois um ser que cria todas as coisas enquanto não existir é uma incoerência lógica e é, portanto, impossível: não há mundo possível que inclua um ser inexistente que criou o mundo. Se o ateísmo deseja sustentar – como ele deve – que a existência de Deus é impossível, o conceito de Deus teria de ser semelhantemente incoerente. Mas não é. Isto apóia a plausibilidade da premissa (1)

Dawkins também chacota, “eu esqueci os detalhes, mas, uma vez, eu ofendi uma assembléia de teólogos e filósofos por adaptar o Argumento Ontológico de maneira que ele provasse que porcos podem voar. Eles lançaram mão da Lógica Modal para provar que eu estava errado”46. Isto é simplesmente constrangedor. O Argumento Ontológico simplesmente é um exercício em lógica modal – a lógica da possibilidade e da necessidade. Eu posso apenas imaginar Dawkins fazendo um teatro de si mesmo naquela conferência profissional com sua paródia espúria, como ele, semelhantemente envergonhou a si mesmo na conferência do Templeton Foundation em Cambridge com sua objeção “peso-mosca” ao Argumento Teleológico!

Conclusão

Os argumentos para a Existência de Deus são logicamente válidos; suas premissas são verdadeiras; e suas premissas são mais razoáveis à luz destas evidências do que suas negações. Então, enquanto pessoas racionais, deveríamos abraçar suas conclusões. Muito mais poderia ser dito e tem sido dito47. Mas eu confio que o bastante tem sido dito aqui para mostrar que os argumentos tradicionais permanecem incólume às objeções levantadas pelos Novos Ateus, tais como Richard Dawkins.

Notas

44 Alvin Plantinga, The Nature of Necessity (Oxford: Clarendon, 1974); Robert Maydole, “A Modal Model for Proving the Existence of God,” American Philosophical Quarterly 17 (1980): 135–42; Brian Leftow, “The Ontological Argument,” in The Oxford Handbook for Philosophy of Religion (ed. William J. Wainwright; Oxford University Press, 2005), 80–115.

45 Dawkins, God Delusion, 83.

46 Ibid., 84.

Fonte: Reasonable Faith
Traduzido por Gaspar de Souza

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ARGUMENTO ONTOLÓGICO


Um argumento ontológico é qualquer argumento que defende a existência de Deus através da ideia de que Ele é obrigatoriamente um ser perfeito e, portanto, deve existir. Os critérios para a classificação de argumentos ontológicos não são exatos e amplamente aceitos, mas eles geralmente partem da definição de Deus e chegam à conclusão de que a sua existência é necessária e certa. Esse tipo de argumento é unicamente um raciocínio a priori e faz pouca ou nenhuma referência a posteriori, de cunho empírico.
Acredita-se que o primeiro argumento ontológico foi proposto pelo teólogo Anselmo de Cantuária. Anselmo definiu Deus como sendo a maior coisa que a mente humana pode conceber e defendeu que, se o maior ser possível existe na imaginação, ele também deve existir na realidade. Ele colocou em seu argumento que uma das características de tal ser, o maior e melhor que se pode imaginar, é a existência. No século XVII, o filósofo René Descartes propôs argumento similar. Descartes publicou diversas variações de seu argumento, cada uma centrada na ideia de que a existência de Deus é imediatamente deduzida de uma ideia "clara e nítida" de um ser supremo e perfeito. No início do século XVIII, o matemático Gottfried Leibniz retoma as ideias de Descartes para tentar provar que uma "supremacia perfeita" é um conceito coerente.
Um argumento ontológico recente veio de Kurt Gödel, que propôs um argumento matemático para a existência de Deus. Norman Malcolm trouxe de novo à discussão o argumento ontológico na década de 1960, quando ele pode localizar um segundo forte argumento na obra de Anselmo; Alvin Plantinga desafiou o argumento de Malcolm e propôs uma alternativa baseada na lógica modal . Tentativas para validar a prova de Anselmo também foram feitas utilizando um testador de teoremas automatizado. Outros argumentos têm sido classificados como sendo ontológicos, entre eles, as obras do filósofo islâmico Mulla Sandra.
A primeira crítica ao argumento ontológico veio de um contemporâneo de Anselmo, Gaunilo de Marmoutiers. Ele usou a analogia da ilha perfeita, sugerindo que o argumento ontológico poderia ser usado para provar a existência de qualquer coisa. Essa foi a primeira de muitas paródias a Anselmo, todas elas sendo concluídas em consequências absurdas. Mais tarde, Tomás de Aquino rejeitou o argumento ontológico de Anselmo baseado na ideia de que os humanos não podem entender a natureza de Deus.
David Hume ofereceu uma objeção empírica, criticando a falta de fundamentação racional e rejeitando a ideia de que algo precisa forçosamente existir. A crítica de Immanuel Kant foi baseada no que ele definiu como sendo a falsa premissa de que a existência é uma qualidade de algo. Ele propusera que a existência não é uma característica necessária para a perfeição e que uma ideia "supremamente perfeita" pode ser concebida sem que ela de facto exista. Finalmente, filósofos, incluindo C. D. Broad rejeitaram a coerência da máxima grandeza de um ser, propondo que alguns atributos da grandeza são incompatíveis com outros, tornando a expressão "máxima grandeza" incoerente. Muitos filosófos entenderam que o argumento ontológico era falso, e Gottlob Frege, filosofo, buscou explicar porquê.
A definição tradicional para argumento ontológico foi dada por Immanuel Kant. Ele contrastou o argumento ontológico (literalmente qualquer argumento "preocupado com o ser") com o cosmológico e argumentos físico-teóricos. De a acordo com a visão de Kant, argumentos ontológicos são todos fundamentados em raciocínio a priori.
Graham Oppy, filósofo australiano, que em outra situação expressou a posição de que ele "não vê razão urgente" para se afastar da definição tradicional, definiu argumentos ontológicos como aqueles que "começam com nada, mas são análises a priori de premissas necessárias" e concluem que Deus existe. Oppy admitiu, porém, que nem todas as "características tradicionais" de argumentos ontológicos (análise, necessidade e uma precedência) são encontrados em todos os argumentos e, no seu trabalho Ontological Arguments and Belief in God, de 2007, sugeriu que a melhor definição empregaria "somente considerações inteiramente internas à visão de mundo teísta".
Oppy subclassificou argumentos ontológicos em: definicional, conceitual (ou hiper-intencional), modal, Meinongian, experimental, mereológico, de ordem superior ou hegeliano baseado na qualidade de suas premissas. Ele definiu essas qualidades como segue: argumentos definicionais invocam definições; conceituais invocam a "possessão de certos tipos de ideias e conceitos"; modais consideram possibilidades; Meinongians defendem a "distinção entre diferentes categorias de existência"; experimentais usam a ideia de que Deus existe sozinho para aquelas pessoas que tiveram experiências dele; e hegelianos foram os utilizados por Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Mais tarde, ele criou outra categoria, dos argumentos mereológicos, que são os argumentos que "se cria ... a teoria de relação parte-todo".


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