Uma vez participei no Instituto de Física da USP de uma mesa-redonda com um conhecido geneticista brasileiro, que se considera profundamente católico. Ele declarou publicamente algo como o seguinte: "Durante a semana, eu ponho meu avental e vou para a o laboratório; no fim de semana ponho meu terno e vou para a igreja, que mal há nisso?" Para mim, isso é uma tragédia, pois os tipos de pensamento que ele exerce nos dois casos e a maneira de encarar o mundo são totalmente incompatíveis. No entanto, trata-se de uma só pessoa; aparentemente, é como se ele tivesse dupla personalidade. Ele encara o mundo do laboratório materialisticamente, e o resto do mundo, talvez humano e social, espiritualmente. Mas onde termina o mundo do laboratório e começa esse outro mundo? O quanto do pensamento do laboratório influencia a vida comum, e vice-versa? Para começar, os cientistas são pessoas humanas, e vivem em sociedade. Em segundo lugar, a escolha da pesquisa a ser feita não é uma ação científica, pois depende do gosto ou impulso do cientista e da moda científica. Esta última refere-se, por exemplo, aos modismos (preferências por certas áreas consideradas muito importantes) na aceitação de artigos, como também nas facilidades no financiamento da pesquisa. Durante a "guerra fria", para garantir nos EUA o financiamento de alguma pesquisa em Ciência da Computação bastava dourar a pílula com algo de tradução automática. Entre nós, um caso típico foi o do Projeto Genoma da Xilella fastidiosa, promovido em 1997 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, fazendo com que muitos laboratórios de pesquisa em biologia voltassem-se para essa área. Aliás, não há hoje nenhum laboratório de biologia que se preze que não tenha um sequenciador de DNA; já em 2000 um pesquisador de um desses laboratórios disse-me que esse sequenciadores tornaram-se tão populares e necessários como os voltímetros.
Por outro lado, muitas pessoas que se dizem religiosas ou espiritualistas pensam materialisticamente, como os que querem provar fisicamente a existência de fenômenos não-físicos. Conheci razoavelmente bem um espírita que se tornou um renomado biólogo. Ele contou-me que, quando jovem, media o peso das pessoas antes de uma sessão mediúnica e logo depois dela, para ver se parte da massa delas tinha sido consumida na energia (física, obviamente) usada na manifestação dos "espíritos" durante a sessão.
Como afirmei no item 5, considero absolutamente essencial fazer-se uma separação entre o que é físico do que é não-físico. O que é não-físico não pode de maneira alguma ser detectado fisicamente, especialmente por meio de aparelhos. Isso não significa que ele não pode influenciar o mundo físico, principalmente nos seres vivos, como em minha teoria indicada brevemente naquele item.
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