Vou aqui me referir à ciência como é feita e divulgada pela quase totalidade dos cientistas.
A ciência moderna é essencialmente materialista-crente. Basta ler revistas científicas e ver-se-á que as explicações e teorias são baseadas exclusivamente em processos físicos; por exemplo, nenhuma formula a hipótese de que o pensamento pode ter origem não-física, e a atividade neuronal pode ser uma consequência e não a causa dos pensamentos. Estou certo de que um artigo que coloca expliciatamente essa hipótese jamais seria aceito por uma revista científica de renome. Por outro lado, quando são revistas de divulgação científica, em geral abominam ou ridicularizam qualquer tipo de espiritualismo.
É muito importante reconhecer que a ciência e sua dileta filha, a tecnologia, estão destruindo o mundo. O aquecimento global é o caso atualmente mais difundido dessa destruição, mas há inúmeros outros, como a poluição dos alimentos, do ar e das águas, o condicionamento feito pela TV e pelos jogos eletrônicos, etc. Jeffrey Smith, o autor do excelente e bem documentado livro Genetic Roulette [SMI J], afirmou em uma palestra que assisti em outubro de 2007 que considerava organismos geneticamente modificados (GM) uma ameaça ao meio ambiente e à humanidade muito maior do que o aquecimento global e os resíduos atômicos. Em seu livro, ele mostra e documenta com citações de artigos científicos, por exemplo, que a inserção de genes perturba o DNA [p. 63], e o uso de bactérias na transposição dos genes faz com que genes de plantas GM passem para outras plantas, animais e seres humanos, quebrando assim a barreira genética [p. 127]. Traduzo o seguinte trecho, que mostra o desastre resultante da fé em declarações científicas e técnicas: "Quando plantas GM resistentes a herbicidas apareceram no mercado em 1996, a indústria de biotecnologia proclamou que elas iriam necessitar de menos herbicida [curioso, elas não produzem herbicida, são resistentes a ele, isto é, permitem que se o use mais do que elas iriam aguentar se não fossem GM!]. Isso foi verdade durante os primeiros três anos. O uso repetido do [herbicida] Roundup [especificamente ao qual aquelas plantas GM tinham maior resistência], entretanto, fez com que ervas daninhas desenvolvessem resistência ao ingrediente ativo do herbicida, o Glifosato. [...] De acordo com dados do USDA [ministério da agricultura americano], o efeito na soja, algodão e milho nos Estados Unidos foi um aumento de 138 milhões de libras (5%) em herbicidas de 1996 a 2004. Isso está acelerando. Em 2004, a soja Roundup Ready recebeu 86% mais herbicidas que grãos convencionais." [p. 147.] Tenho uma forte impressão de que a mentalidade imposta pela ciência, de crença na mesma, é que levou à adoção de organismos GM. Os terríveis efeitos colaterais do uso de organismos GM, que estão começando a se manifestar, como por exemplo a citada transposição dos genes modificados para outras espécies, são frutos do reducionismo do método científico atual; com ele, não se investigam e atingem aspectos globais, que podem mostrar resultados imprevistos. Por exemplo, J. Smith cita que havia uma teoria, abraçada pela indústria de biotecnologia, de que os genes eram independentes; ele cita pesquisas científicas que mostraram o contrário, havendo agrupamentos de genes funcionando em conjunto, e que a expressão dos genes dependem do fator "epigenético", isto é, influências fora de genes específicos. "Toda essa nova informação sobre genes não foi considerada quando a tecnologia de inserção de genes foi desenvolvida. Uma inserção aleatória, com suas mutações e eliminações associadas, pode causar uma devastação em uma rede de genes finamente afinados e coordenados." [p. 121.] Em outras palavras, a expressão genética é extremamente complexa: "A biologia é muito mais complexa que a tecnologia", segundo Robert Mann, bioquímico da Universidade de Auckland [p. 120]. Além disso, as plantas GM comerciais não foram de modo algum introduzidas pensando-se no bem da humanidade, mas sim para satisfazer a ganância monetária.
Vou caracterizar aqui a ciência que levou aos organismos GM que estão produzindo desastres ecológicos como "má ciência". Um exemplo clássico de má ciência foram as pesquisas que mostravam que o fumo não tinha efeito nocivo à saúde dos fumantes. Um outro, pouco mas antigo, não previa as consequências da radiação provocada pela explosão de bombas atômicas, o que acabou levando ao banimento dos testes com elas somente muito tempo depois de iniciados. Tenho a impressão de que, se houvesse mais respeito pela natureza, muitos dos desastres provocados pelas descobertas científicas teriam sido evitados. Infelizmente, como já afirmei no começo deste item, respeito tem que ser estranho ao materialismo, pois da matéria ele não pode advir.
É esse reducionismo do método científico corrente, perdendo a noção do global em todos os níveis, e a falta de respeito para com a natureza proveniente do materialismo e da ambição, que nos levam ao seguinte paradoxo: na era do materialismo, estamos destruindo a matéria do mundo. É preciso algo que transcenda a matéria para respeitá-la e para que se tenha e se exerça um amor altruísta, oposto às ações ditadas pelo egoísmo.
Em minha opinião, uma das consequências mais funestas do materialismo, especialmente da ciência materialista, é a consideração de que o ser humano é uma máquina, ideia publicada em um livro por La Méttrie já em 1748 (L’Homme-Machine). Isso está errado já do ponto de vista linguístico, pois "máquina" aplica-se a um artefato projetado e construído; mas os seres humanos não foram nem projetados nem construídos. O correto seria dizer que o ser humano é um ser puramente físico. No entanto, tenho sido bem radical nos últimos tempos a esse respeito: parece-me que não há nada, absolutamente nada puramente físico nos seres vivos, desde as células até os organismos completos, isto é, neles sempre se manifesta algo não-físico.
A imagem passada pelos cientistas, de que o ser humano é uma máquina, já impregnou a mentalidade de boa parte da humanidade. O terrível desse erro crasso é que não há moral intrínseca às máquinas, como não a há nos animais, plantas ou minerais. Pode haver ética ou moral no emprego de uma máquina, mas não intrinsecamente nela própria, no sentido de que uma máquina pode ter responsabilidade pelas suas ações: quem é responsável pelo seu funcionamento é o seu usuário, ou mesmo quem a produziu. Assim, a imagem de que o ser humano é uma máquina retira dele a sua moral intrínseca. Os resultados dessa mentalidade serão cada vez mais terríveis. Por exemplo, do mesmo modo que não é um ato imoral deixar de colocar combustível em um automóvel estacionado em uma garagem, quem sabe também não será considerado imoral deixar um ser humano sem comida. A propósito, quantas pessoas importam-se conscientemente que centenas de milhões de pessoas, incluindo crianças, estão passando fome neste momento, apesar de o mundo produzir comida suficiente? (Um artigo de Susan Sheperd no N.Y. Times de 30/1/08 cita que a cada ano morrem 5 milhões de crianças de menos de 5 anos por falta de alimentação.) Um outro exemplo é a total falta de sensibilidade que criminosos e terroristas em todo o mundo estão mostrando frente ao sofrimento de suas vítimas: se elas são máquinas, seu sofrimento não faz sentido. O quanto isso é devido à mentalidade materialista?
Para mais detalhes sobre o ser humano não ser uma máquina, e em particular sobre o fato de que máquinas jamais vão ter sentimentos e pensamentos no sentido humano, ver meu artigo sobre Inteligência Artificial.
Uma das características essenciais da ciência moderna é a sua extrema especialização. Existe inclusive uma crença de que só os especialistas podem emitir opiniões, esquecendo-se que ao se fazer um julgamento sempre entram fatores imponderáveis, pois o conhecimento do mundo real não pode ser total. O máximo que os especialistas deveriam fazer é apresentar seus dados e teorias; a decisão de usá-los de uma ou outra forma não é um ato científico, isto é, a decisão final não deveria ser tomada por eles ou baseada exclusivamente em seus dados. Essa extrema especialização faz com que não-especialistas tenham muita dificuldade em compreender a linguagem e os conceitos dos especialistas. Há uma tendência a se achar popularmente que a ciência e a técnica são complicadas demais e não é possível, ou é extremamente difícil, compreender os seus conceitos. Isso contribui decisivamente para a paralisia mental citada no requisito 3.2. Com isso, fica-se à mercê dos especialistas, isto é, do materialismo que, em geral, impera neles.
Uma outra característica essencial da ciência moderna é a obsessão em usar modelos matemáticos, a ponto de se considerar que, se não houver expressão matemática, uma teoria não é científica, como à vezes é infelizmente considerada a Teoria das Cores de Goethe [SEP, pp. 8, 176]. Tenho a impressão de que o uso desses modelos deve-se à objetividade que eles introduzem. De fato, eles são absolutamente universais: qualquer pessoa adequadamente preparada pode compreender a Matemática por detrás deles, e empregá-los universalmente na previsão ou confirmação de resultados experimentais. No entanto, é necessário reconhecer que os modelos matemáticos envolvem unicamente previsão ou confirmação de resultados de medidas. Por exemplo, a "Lei" da Atração Gravitacional de Newton expressa uma relação numérica entre as medidas das massas de corpos que se atraem, da distância entre eles, de uma constante (no caso da gravitação, a aceleração da gravidade), e da força de atração. Como todos os modelos matemáticos, essas medidas devem ser expressas quantitativamente. Com isso, os modelos matemáticos eliminam o aspecto qualitativo das coisas – além de não expressarem a essência delas: a fórmula de Newton não diz nada sobre a origem da atração gravitacional (um mistério científico até hoje).
É essa obsessão pela quantificação que, parece-me, levou à descoberta do DNA que, no fundo, é um modelo matemático, com todas as limitações desse modelo. Por exemplo, na realidade o DNA não é aquela hélice estática, como dá a impressão de ser. Uma sequência de bases do DNA, formando um gene, não é algo isolado, pois interage com outros genes. O DNA sem o ambiente celular não produz absolutamente nada, como mostrei no ensaio "Desmistificação da onda do DNA", e onde cito exageros, típicos de crença na ciência, que se atribui a ele.
A ciência pode ser ampliada por meio da adoção de uma visão espiritualista científica. Uma das consequências disso seria passar-se a fazer ciência qualitativa, além da quantitativa (única feita hoje em dia). Outra consequência seria ter-se novamente uma ciência mais humana. A ciência moderna é intrinsecamente desumana, por exemplo na exigência da reprodutibilidade dos experimentos: muitas experiências humanas não são reprodutíveis. Por exemplo, o leitor deste artigo não será exatamente o mesmo depois de tê-lo lido: os seres humanos incorporam todas suas vivências (principalmente em seu sub- ou inconsciente). Além disso, a objetividade da ciência elimina os aspectos subjetivos do ser humano, como seus sentimentos e impulsos de vontade.
Um pequeno passo, de grande impacto, levaria a uma ampliação da teoria da evolução: considerar-se que nem todas as mutações e nem todas as seleções naturais foram aleatórias, mas dirigidas pelos membros não-físicos constituintes dos indivíduos e das espécies. Isso abriria um enorme campo de pesquisa, pois se poderia, por exemplo, considerar que a evolução teve um objetivo: o aparecimento do ser humano que, claramente, é o coroamento da mesma. Um exemplo de um raciocínio diferente proveniente de uma ciência ampliada levando-se em consideração processos não-físicos, é a razão para que seres humanos sejam eretos: sem essa posição, eles não poderiam ter desenvolvido a liberdade (que os animais não têm).
É um fato que os sucessos da ciência e da tecnologia (no sentido em inglês, isto é, instrumentos e máquinas) fazem com que as pessoas tornem-se cada vez mais crentes em ambas; já em 1976 eu chamei a atenção para o que significa a crença na ciência em meu artigo "O computador como instrumento do cientificismo". Com essa crença, parece-me que as pessoas perdem, por exemplo, o respeito pela natureza (a propósito, "respeito" não pode fazer sentido de um ponto de vista materialista coerente, pois da matéria ele não pode advir). Assim, perde-se a intuição do lugar correto em que a ciência e a tecnologia devem ser aplicadas, caindo-se em toda sorte de exageros. A esse respeito, ver meu artigo "A missão da tecnologia".