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ANSIEDADE

 


Você está ansioso? O que você pode fazer e quando buscar ajuda

Vários estudos comprovam os benefícios da ioga, da meditação, dos exercícios respiratórios e do contato com a natureza para reduzir a ansiedade

O mundo vive uma epidemia de ansiedade —e o Brasil se destaca nesse cenário. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o país tem o maior número de pessoas ansiosas no mundo. A situação agravou com a pandemia: a mesma OMS aponta que a ansiedade e a depressão aumentaram mais de 25% no primeiro ano de enfrentamento da Covid.

Mais um dado: de acordo com a pesquisa Global Health Service Monitor, realizada em 2022 pela empresa Ipsos em 34 países, a preocupação com saúde mental quase triplicou nos últimos quatro anos.

“Essa ansiedade toda indica que as pessoas estão se sentindo muito pressionadas por fatores econômicos, sociais e políticos e não estão sabendo como reagir a esse sentimento”, afirma o psicólogo Ilan Segre, de São Paulo, autor do livro Terapia Integrativa (Editora Ágora).

Ele comenta que a pandemia gerou, além do medo, da insegurança, das incertezas e das mortes de familiares e amigos, a perda de empregos e poder aquisitivo, complicando muito a vida de uma parcela significativa da população.

“Tudo isso deixou as pessoas num estado de hipervigilância, um estado permanente de alerta, angústia. E essa sensação de ameaça gera ansiedade. É um cenário global, de caráter social e coletivo, no qual estamos todos imersos”, afirma.

A partir dessa situação geral, cada um, individualmente, vai achar (ou não) soluções e encaminhamentos possíveis para lidar com tudo isso. “As consequências, para muita gente, são estados de desequilíbrio físico e mental.”

Ilan explica que a ansiedade é um mal-estar físico e psíquico percebido como uma angústia, que gera sensações de aflição, de agonia e pode apresentar sintomas físicos. Ele aponta, a seguir, algumas sensações bastante comuns nas pessoas que estão passando por um período de ansiedade.

Agitação constante: a pessoa não consegue desligar.

Movimentação excessiva de pernas ou braços, às vezes com aumento da temperatura corporal e sudorese.

Preocupação em relação a si mesma ou com pessoas queridas (família, amigos) Medo de que algo ruim vá ocorrer.

Incapacidade de relaxar, que pode se manifestar como insônia (ou acordar antes da hora e demorar a pegar no sono ou não conseguir mais dormir).

Necessidade de estar sempre conectado: nas redes sociais ou assistindo a TV, vídeos.

Dificuldade de atenção, hoje chamado de TDAH — Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade, que é agravado pela ansiedade e por insônia: a pessoa não consegue ler um livro, ver um filme inteiro, se concentrar no trabalho ou na aula.

Fadiga como consequência de insônia, de estados de agitação física e mental constantes. A pessoa se sente esgotada, cansada, sem energia. Tem dor de cabeça, no pescoço, na parte alta dos ombros: fica incapaz de relaxar. Está exausta, mas não consegue descansar nem dormir. E isso causa irritabilidade. A irritação constante e impaciência também são expressões de estados ansiosos.

Quando procurar ajuda?

“Se você tiver qualquer um desses sintomas de modo persistente por pelo menos duas semanas já dá para considerar que está vivendo um período de ansiedade”, diz Ilan.

Ele lembra que, na natureza, os animais ficam muito ansiosos quando são perseguidos. Mas, passado o perigo, eles voltam rapidamente a um estado de equilíbrio.

“Nós, humanos, temos temos dificuldade de desconectar daquilo que gera ansiedade: seja um pensamento, uma ideia ou algo que de fato está acontecendo. E, se esse estado de desequilíbrio perdura por um longo período, acaba causando problemas físicos (gastrite, dor de cabeça, enxaqueca, síndrome do intestino irritável, diarreia) e mentais (medo profundo, insônia, incapacidade de concentração e as questões que citamos acima).

O acompanhamento com psicólogo ou terapeuta pode ajudar na identificação dos possíveis gatilhos da ansiedade e no desenvolvimento de estratégias para lidar com a situação.

“Exercícios físicos, especialmente os aeróbicos, ajudam muito a aliviar estados ansiosos e melhoram a qualidade do sono”, afirma Ilan. Vários estudos também comprovam os benefícios da ioga, da meditação, dos exercícios respiratórios e do contato com a natureza para reduzir a ansiedade.

“Parece que o mundo tem sido experienciado como um grande fator ansiogênico: as pressões de trabalho, os papéis sociais e as diversas atividades que temos que cumprir muitas vezes são percebidas como um grande peso, que nos sentimos incapazes de carregar”, explica. Mas podemos adotar estratégias que ajudam a reduzir a ansiedade:

incluir na rotina caminhadas ao ar livre, de preferência em parques, no campo ou na praia, onde não precisamos ficar hipervigilantes em relação a atropelamentos, roubos e outros tipos de intercorrências;

sempre que possível, sair da cena urbana e se conectar com a natureza (pisar na areia, na grama, na terra);

ter plantas em casa, fazer jardinagem;

procurar contato com animais: a conexão com os pets acalma a mente;

diminuir o tempo de tela (do celular, do computador) e aumentar o contato com a família e os amigos, ou seja, trocar a conexão digital pela pessoal.

Por Angélica Banhara

Publicado na Folha de São Paulo