22_09

ATITUDE CIENTÍFICA

 


A atitude científica

Características gerais da atitude científica

O que distingue a atitude científica da atitude costumeira ou do senso comum? Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas.

Em quase todos os aspectos podemos dizer que as características do conhecimento científico se opõem às do senso comum:

- é objetivo, pois investiga as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas;

- é quantitativo, ou seja, busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem diferentes. Assim, por exemplo, as diferenças de cor são explicadas por uma causa única: as diferenças do comprimento de onda luminosa. As diferenças entre a altura dos sons, pelo comprimento de onda sonora. Em cada caso, o conhecimento científico estabelece um padrão ou critério de medida (comprimento de onda luminosa, comprimento de onda sonora) para explicar as diferenças;

- é homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que nos parecem diferentes. Por exemplo, a lei universal da gravitação demonstra que a queda de uma pedra e a flutuação de uma pluma são movimentos que obedecem à mesma lei no interior do campo gravitacional;

- é universalizante, pois reúne individualidades sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que têm a mesma estrutura, embora sejam sensorialmente percebidas como diferentes. Assim, por exemplo, a Química mostra que a enorme variedade de corpos decorre das inúmeras combinações de um pequeno número de elementos que compõem todos os corpos;

- é diferenciador, pois não reúne em um mesmo conjunto nem generaliza o que é apenas aparentemente semelhante. Em vez disso, investiga se aqueles que parecem iguais não obedecem, na verdade, a estruturas diferentes. Vejamos um exemplo. Na obra Antropologia estrutural (1958), o antropólogo francês Lévi-Strauss (1908-2009) mostrou que, embora possamos traduzir a palavra queijo para o francês fromage e para o inglês cheese, essas três palavras não têm o mesmo sentido para quem as fala, porque não se entende a mesma coisa por queijo em cada sociedade, tampouco o queijo apresenta as mesmas características nas três. Ao contrário de um brasileiro, um francês e um estadunidense não conseguem nem sequer conceber que se coma queijo com goiabada. No entanto, o brasileiro entende que o queijo é um alimento levemente salgado e consistente, e não picante e mais pastoso, como entenderia um francês;

- estabelece relações causais somente depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. Assim, por exemplo, um corpo não cai porque é pesado, mas porque o peso de um corpo depende do campo gravitacional onde se encontra - é por isso que, quando a velocidade de uma nave espacial supera a força da gravidade terrestre, todos os corpos em seu interior flutuam, independentemente da massa ou do tamanho. Da mesma forma, um corpo tem certa cor não porque seja colorido, mas porque reflete a luz de uma determinada maneira, etc.;

- não se surpreende nem com a regularidade, constância, frequência, repetição e diferença das coisas nem com fatos que não sejam frequentes ou constantes. Um eclipse, um terremoto, um furacão, a erupção de um vulcão, embora não ocorram com muita frequência, obedecem às leis da Física e têm explicações racionais. A ciência mostra que o espantoso, o extraordinário ou aquilo que é considerado "milagroso" são simplesmente um caso particular do que é regular, normal e frequente;

- distingue-se da magia. A magia admite que existe uma simpatia ou afinidade secreta entre coisas diferentes que as faz agir umas sobre outras por meio de qualidades ocultas (por exemplo, os astros agem sobre a vida humana).

Além disso, a magia considera que a mente humana é uma força capaz de ligar-se a espíritos superiores (planetários, astrais, angélicos, demoníacos) para provocar efeitos inesperados nas coisas e nas pessoas. A atitude científica, ao contrário, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e relações racionais que podem ser racionalmente conhecidas por todos;

- afirma que, pelo conhecimento, o ser humano pode libertar-se do medo e das superstições, deixando de projetá-los no mundo e nos outros. Por exemplo, durante muitos séculos os seres humanos tinham medo de raios e trovões, imaginados como castigos enviados pela divindade para puni-los por alguma falta cometida. Por meio da meteorologia, a ciência demonstrou que são efeitos das condições atmosféricas;

- procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das teorias em doutrinas e destas em preconceitos sociais. O fato científico resulta de um trabalho paciente e lento de investigação e de pesquisa racional, aberto a mudanças, não sendo nem um mistério incompreensível nem uma doutrina geral sobre o mundo.

A Universidade de Brasilia, ensina.