Usarei neste texto a expressão "acreditar" como sinônimo exclusivo de "ter crença", no sentido exposto. Como exemplo, na doutrina Católica oficial, deve-se acreditar em Deus e não acreditar na reencarnação do ser humano (apesar de alguns claros indícios desse ultimo conceito no Novo Testamento). Note-se que não há uma conceituação clara de Deus, seja nessa doutrina como na de outras religiões, de modo que não se deveria falar, no sentido da caracterização, em uma "hipótese da existência de Deus", expressão empregada por Dawkins.
Um outro exemplo de crença é tomarem-se as imagens da Gênese como fatos literais, por exemplo considerando-se que os "dias" da "criação" foram de 24 horas, como querem muitos criacionistas bíblicos. Já uma hipótese de trabalho poderia ser a de que essas imagens são símbolos para fatos que realmente ocorreram. Nota-se por esse exemplo como uma hipótese de trabalho deve necessariamente levar a uma pesquisa: no caso, quais as realidades representadas por essas e outras imagens bíblicas. Já a crença citada não leva a nenhuma investigação ou busca de compreensão.
Usando ainda esse exemplo, é um fato que muitas pessoas consideram as imagens bíblicas como invencionices, como "historinhas". Temos aí duas possibilidades: tomar-se isso como crença ou como hipótese de trabalho. Na segunda, tenta-se justificar essa consideração especulando-se com uma teoria, por exemplo, de que o ser humano antigo tinha medos infantis, e essas "historinhas" ajudavam-no a enfrentar esse medo. Ou que o ser humano tinha necessidade de se localizar perante o passado, de modo que inventou uma cosmogonia fantasmagórica, já que não tinha naquela época a capacidade de inventar uma teoria conceitual como a do Big Bang. Aliás, essa também é uma teoria fantasmagórica; afinal, como a matéria ou a energia surgiram antes de se condensarem e explodirem? Mesmo considerando-se uma sequência de contrações e expansões, ela teve que ter um começo físico. A esse respeito, Milton Mourão Jr. sugeriu-me um interessante paradoxo: a matéria condensada no instante do Big Bang, ou logo depois dele, devia obviamente ter formado um super-buraco negro, e aí não poderia ter ocorrido nenhuma explosão. A maneira que os cosmologistas encontraram para contornar esse paradoxo é supor que nos primeiros instantes a gravitação da matéria era repulsiva, e não atrativa. Posteriormente, passa a predominar a matéria atrativa, se bem que a aparente expansão acelerada do universo visível exige novamente a presença de misteriosas matéria e energia repulsivas. Mas tudo isso é, obviamente, teoria.
Usando ainda esse exemplo, é um fato que muitas pessoas consideram as imagens bíblicas como invencionices, como "historinhas". Temos aí duas possibilidades: tomar-se isso como crença ou como hipótese de trabalho. Na segunda, tenta-se justificar essa consideração especulando-se com uma teoria, por exemplo, de que o ser humano antigo tinha medos infantis, e essas "historinhas" ajudavam-no a enfrentar esse medo. Ou que o ser humano tinha necessidade de se localizar perante o passado, de modo que inventou uma cosmogonia fantasmagórica, já que não tinha naquela época a capacidade de inventar uma teoria conceitual como a do Big Bang. Aliás, essa também é uma teoria fantasmagórica; afinal, como a matéria ou a energia surgiram antes de se condensarem e explodirem? Mesmo considerando-se uma sequência de contrações e expansões, ela teve que ter um começo físico. A esse respeito, Milton Mourão Jr. sugeriu-me um interessante paradoxo: a matéria condensada no instante do Big Bang, ou logo depois dele, devia obviamente ter formado um super-buraco negro, e aí não poderia ter ocorrido nenhuma explosão. A maneira que os cosmologistas encontraram para contornar esse paradoxo é supor que nos primeiros instantes a gravitação da matéria era repulsiva, e não atrativa. Posteriormente, passa a predominar a matéria atrativa, se bem que a aparente expansão acelerada do universo visível exige novamente a presença de misteriosas matéria e energia repulsivas. Mas tudo isso é, obviamente, teoria.
Para refletir. |