Imagens
captadas pelo telescópio James Webb: 19 galáxias em detalhes inéditos, que
devem permitir estudos sobre a formação das estrelas Foto: Space
Telescope Science Institut
Material deve permitir estudos aprofundados sobre a formação das
estrelas, preveem cientistas
Imagens capturadas pelo telescópio
espacial James Webb e divulgadas na
segunda-feira dia 29/01/24, mostram com detalhes inéditos 19 galáxias espirais
relativamente próximas da Via Láctea, onde está o planeta Terra.
As imagens foram divulgadas por uma equipe de cientistas
envolvida no projeto Física em Alta Resolução Angular em Galáxias Próximas
(Phangs, na sigla em inglês), que reúne cerca de 150 observatórios astronômicos
pelo mundo, e devem permitir estudos avançados sobre a formação das estrelas e
a estrutura e a evolução das galáxias, segundo cientistas. O James Webb foi
desenvolvido pela Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa) em parceria com a
agência espacial europeia e a agência espacial canadense, e foi lançado em 2021
de uma base na Guiana Francesa.
As galáxias são identificadas por códigos. A mais próxima,
dentre essas 19 retratadas, é a NGC5068, situada a cerca de 15 milhões de
anos-luz da Terra. A mais distante delas é a NGC1365, a aproximadamente 60
milhões de anos-luz. Um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros,
distância que a luz percorre ao longo de um ano.
“As novas imagens de Webb são extraordinárias”, disse Janice
Lee, cientista de projetos para iniciativas estratégicas no Space Telescope
Science Institute, em Baltimore. “Eles são alucinantes mesmo para pesquisadores
que estudam essas mesmas galáxias há décadas. Filamentos são retratados nas
menores escalas já observadas e contam uma história sobre o ciclo de formação
estelar.”
A NIRCam (câmera quase infravermelha) do telescópio capturou
imagens de milhões de estrelas, que brilham em tons de azul. Algumas estão
espalhadas pelos braços espirais, outras estão agrupadas em aglomerados de
estrelas.
Os dados do Instrumento de Infravermelho Médio do telescópio
destacam poeira brilhante, mostrando onde ela existe ao redor e entre as
estrelas. Também destaca estrelas que ainda não se formaram completamente –
estão envoltas no gás e na poeira que alimentam o seu crescimento.
“É aqui que podemos encontrar as estrelas mais novas e mais
massivas das galáxias”, disse Erik Rosolowsky, professor de física na
Universidade de Alberta, em Edmonton, Canadá.
Outra coisa que surpreendeu os astrônomos foram as grandes
conchas esféricas visualizadas em meio ao gás e à poeira. “(Esses
espaços) Podem ter sido criados por uma ou mais estrelas que
explodiram, abrindo buracos gigantes no material interestelar”, afirmou Adam
Leroy, professor de astronomia na Universidade Estadual de Ohio, nos Estados
Unidos.
Imagem
feita pelo telescópio James Webb da galáxia NGC 1300, localizada a 69 milhões
de anos-luz da Terra Foto: NASA
Nos espirais existem grandes regiões com gás, que aparecem em vermelho e laranja. “Essas estruturas tendem a seguir o mesmo padrão em certas partes das galáxias”, acrescentou Rosolowsky. “Pensamos nelas como ondas, e o seu espaçamento nos diz muito sobre como uma galáxia distribui o seu gás e poeira.” O estudo destas estruturas deve fornecer informações importantes sobre como as galáxias constroem, mantêm e interrompem a formação de estrelas.
Segundo os cientistas, as imagens indicam que as galáxias crescem
de dentro para fora – a formação estelar começa nos núcleos das galáxias e
espalha-se ao longo dos seus braços. Quanto mais longe uma estrela estiver do
núcleo da galáxia, maior será a probabilidade de ela ser mais jovem. Em
contraste, as áreas próximas dos núcleos, que parecem iluminadas por um
holofote azul, são compostas por estrelas mais antigas.
Já os núcleos das galáxias parecem inundados de picos de
difração rosa e vermelhos. “Este é um sinal claro de que pode existir um buraco
negro supermassivo ativo”, disse Eva Schinnerer, cientista do Instituto Max
Planck de Astronomia, em Heidelberg, na Alemanha. “Ou os aglomerados de
estrelas em direção ao centro são tão brilhantes que saturaram aquela área da
imagem.”
O número sem precedentes de estrelas mostradas pelo telescópio
Webb vai permitir muitos estudos, inclusive a catalogação delas. “As estrelas
podem viver durante milhares de milhões ou bilhões de anos”, disse Leroy. “Ao
catalogar com precisão todos os tipos de estrelas, podemos construir uma visão
holística e mais confiável dos seus ciclos de vida.”