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CIÊNCIA, RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE


Muito se tem falado ultimamente sobre o tema "Ciência e Religião" ou "Ciência e Espiritualidade". Por exemplo, a Boyle Lecture de 2005, dada por Simon Conway Morris, tratou justamente desses assuntos. O livro de Richard Dawkins The God Delusion (traduzido impropriamente como Deus, um Delírio – veja-se minha resenha sobre ele [SET 2009]) trata de mostrar que o conceito de Deus e as religiões são um engano, e até mesmo que "a existência de Deus é uma hipótese científica como qualquer outra", isto é, propõe que a questão da existência ou não de Deus seja tratada cientificamente [DAW b, p. 72]. Em novembro de 2007 assisti em um congresso de medicina a uma mesa redonda com o título "Ciência e espiritualidade", e fiquei muito insatisfeito com o que nela foi exposto. Por outro lado, recebi algumas críticas sobre meu artigo "Por que sou espiritualista", e percebi que precisava deixar alguns pontos mais claros. Com isso, resolvi ordenar e expor minhas ideias a respeito do tópico do título do presente artigo, fazendo também incursões na ciência, no materialismo e nas religiões instituídas, ou confissões, complementando várias ideias expostas no artigo citado. Vou discorrer sobre o infeliz abismo existente entre ciência e religião, que poderia ser eliminado com mudanças em ambas, por meio do que vou caracterizar como "espiritualidade científica". Para chegar a caracterizar esse tipo de espiritualidade, que envolve hipóteses de trabalho e não crenças, caracterizo no item 2 esses dois conceitos, salientando suas diferenças. No item 3 coloco o que considero uma atitude cognitiva correta, e que denominei de "atitude científica". No item 4 caracterizo o que entendo por materialismo, mostrando que existem dois tipos do mesmo; mostro que a partir dessa visão de mundo, se for coerente, não se podem admitir várias características humanas, especialmente o livre-arbítrio. No item 5 abordo o espiritualismo, do qual caracterizo também dois tipos, sendo um deles o que denominei de "espiritualismo científico", que usa uma atitude científica na cognição. Adotando-se uma visão de mundo espiritualista científica, características humanas que não fazem sentido de um ponto de materialista passam a poder ser admitidas. O item 6 mostra como há visões de mundo que são combinações de materialismo com espiritualismo. A ciência moderna é examinada no item 7, mostrando que ela é essencialmente materialista. No item 8 descrevo certas características de religiões instituídas, caracterizando o tipo de espiritualismo que elas cultivam, e mostrando que, de certos pontos de vista, elas são materialistas. O abismo atual entre ciência e religião é descrito no item 9, onde mostro como ele poderia ser suplantado por mudanças tanto numa como na outra. Coloco também que ele é devido tanto a um materialismo preconceituoso como ao tipo de espiritualismo típico das religiões instituídas. No item 10 enumero várias razões para uma pessoa sentir-se inclinada a adotar o materialismo, e no 11 faço o mesmo para o espiritualismo científico. Finalmente, no item 12 descrevo um exemplo de uma espiritualidade científica que considero adequada ao ser humano moderno, mostrando brevemente certas características da mesma e suas aplicações.

prossegue em 2.1 - HIPÓTESE E CRENÇA